jueves, 3 de diciembre de 2009

Mestres da luz. Joaquín Sorolla e José Malhoa. Impressionistas Ibéricos



“Praia das maçãs.Retrato da estância balnear da Praia das Maçãs . José Vital Branco Malhoa


Joaquín Sorolla y Bastida. Paseo a orilla del mar.


Paris, ano de 1874  “Impression, Soleil Levant”  Claude Monet

“Eu bem o sabia! Pensava eu, se estou impressionado é porque lá há uma impressão. E que liberdade, que suavidade de pincel! Um papel de parede é mais elaborado que esta cena marinha.  Louís Leroy

Assim se define o início do movimento Impressionista, que poderia ser atribuido a um dos muitos quadros pintados pelo Mestre José Malhoa ou por Joaquín Sorolla.
O que me faz recordar este pintor português?
Todos estamos convictos que o pintor mais emblemático deste ano recai sobre o valenciano Joaquín Sorolla, a grande exposição no Museo del Prado.

A pintura À beira-mar, retratando a estância da praia das maçãs representa uma realidade do quotidiano dos veraneantes do início do século XX. Trata-se de uma leitura social, um almoço ou um lanche num ambiente calmo e romântico sobre o mar, juntando dois dos aspectos da pintura de Malhoa, o retrato e a paisagem, o inÍcio do Impressionismo em Portugal.
Ao centro do quadro encontra-se um casal, a figura feminina com um vestido cor-de-rosa e um chapéu creme onde José Malhoa procurou representar até ao mais ínfimo pormenor as sombras projectadas e a incidência da luz e isso vê-se no muro, no chão e no vestido. Sentada de perna cruzada onde apoia o braço esquerdo, o outro braço sobre o encosto da cadeira, encontra-se de costas para o espectador. A figura masculina de fato preto tem o cotovelo apoiado na mesa e a cabeça apoiada na mão desse mesmo braço, encontra-se de frente para o espectador e para a figura feminina. Estas figuras não tem contornos nítidos pois o desenho deixa de ser o principal meio estrutural do quadro passando a ser a mancha/cor.
Sentados à mesa a conversar e sobre ela encontra-se uma toalha branca. No lado esquerdo da figura feminina está um jarro e chávenas onde se sente as tonalidades que os objetos adquirem ao refletir a luz do sol num determinado momento. Nesse mesmo canto esquerdo conseguimos ver a madeira da mesa, pois o vento levantou a toalla e ainda nesse lado está encostado ao parapeito e à mesa um banco colectivo em madeira e depois do parapeito encontra-se o mar, com as ondas a baterem nas rochas. Atrás da figura masculina há outra mesa e mais ao fundo a parede onde acaba o terraço. Ainda dentro do terraço encontra-se a direita da figura feminina junto da parede uma planta e uma mesa com outros clientes do restaurante  e junto à cadeira da figura feminina, metade de um banco e sobre ele o chapéu creme com uma risca preta. Sobre o terraço vemos um caramachão, toldo em palha apoiado por paus de Madeira que se encontra junto ao parapeito e no meio da varanda.

As cores do quadro são harmónicas, coloridas e claras. As cores e tonalidades não foram obtidas pela mistura das tintas na paleta do Mestre. Pelo contrário, são puras e dissociadas no quadro em pequenas pinceladas. É o observador que, ao admirar a pintura, combina as várias cores, obtendo o resultado final. A mistura deixa, portanto, de ser técnica para se tornar óptica e José Malhoa aqui apresenta uma pintura de formas absolutas, fechadas e simplificadas mostrando tanto a figura humana como as perspectivas do ambiente em seu redor de forma proporcional. O tipo de pincelada é de um só traço, sem perder qualquer pormenor.

José Malhoa nasce nas Caldas da Rainha em 28 de Abril de 1855.
Com apenas 12 anos entrou para a Escola de Belas Artes. Em todos os anos ganhou o primeiro prémio, devido às suas enormes faculdades e qualidades artísticas.
Realizou inúmeras exposições, tanto em Portugal como no estrangeiro, designadamente em Madrid, Paris e Rio de Janeiro. Foi pioneiro do Naturalismo em Portugal, tendo integrado o Grupo do Leão.
Destacou-se também por ser um dos pintores portugueses que mais se aproximou da corrente artística Impressionista.
Foi o primeiro presidente da Sociedade Nacional de Belas Artes e foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem de Santiago. Em 1933, ano da sua morte, foi criado o Museu de José Malhoa nas Caldas da Rainha.

Amália Rodrigues
Fado Malhoa
by José Galhardo / Frederico Valério

Alguém que Deus já lá tem
Pintor consagrado,
Que foi bem grande
E nos fez já ser do passado,
Pintou numa tela
Com arte e com vida
A trova mais bela
Da terra mais querida.
Subiu a um quarto que viu
A luz do petróleo
E fez o mais português
Dos quadros a óleo
Um Zé de Samarra
Com a amante a seu lado
Com os dedos agarra
Percorre a guitarra
E ali vê-se o fado.
Dali vos digo que ouvi
A voz que se esmera
Dançando o Faia banal
Cantando a Severa
Aquilo é bairrista
Aquilo é Lisboa
Aquilo é fadista
Aquilo é de artista
E aquilo é Malhoa.

Texto de Agostinho Bento de Oliveira

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